quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O princípio do fim

Sábado.
Sábado partiremos.
Sábado deixaremos para trás uma boa parte da vida que aqui levámos.
Sábado despedir-nos-emos de quem foi como uma família durante estes meses, daqueles que foram como irmãos, vivendo nesta favela chique que no final já não eram cinco casas mas cinco partes de uma casa só, onde se entrava sem bater à porta tal era a confiança, onde se ia para buscar qualquer coisa que não havia no nosso frigorífico sem ter que pedir.
Sábado diremos adeus àqueles que nos foram mais queridos:
Adeus ao Fábio, o nosso primeiro amigo estrangeiro de Floripa, que de início até pensávamos que era português.
Adeus ao Tiago, o pintas cá da favela chique, e ao seu jeito para condizer t-shirts de alças e pulseiras Dolce & Gabanna, tudo depois de meia hora a mirar-se ao espelho a pôr gel, mesmo quando vai para a praia.
Adeus à Nerea e à sua cabeça no ar, sempre pronta para dar tudo e nunca pedindo nada em troca.
Adeus à Sara e à sua faceta escondida, a que só se chega se ela deixar, mas que depois prende qualquer um.
Adeus ao Zé, o mais ponderado dos algarvios, sempre se esforçando para que todos se dessem bem.
Adeus ao Zé Maria e ao seu ar esgroviado, tão pronto a alinhar numa ida ao John Bull como a ficar em casa a não fazer nada.
Adeus ao Luís, um miúdo impecável, sempre pronto para ajudar e cujo único defeito é estar sempre a comparar tudo com a sua amada "Póbuoa".
Sábado só não diremos adeus ao Flávio porque já lhe dissémos na terça, quando partiu para Portugal, deixando a impressão de que por trás de alguma timidez ainda havia muito para conhecer.
Sábado, quando dissermos Adeus, todos sabemos que será mais um Até Breve, pois mais tarde ou mais cedo voltaremos a ver-nos, seja quando for, em Portugal ou Espanha.
Sábado não nos esqueceremos do que deixámos para trás.
Sábado será o princípio do fim...
... ou será o fim do princípio?
Hoje descobri que fiz o semestre todo com notas acima de 16 (até tive um 19!) com um caderno tamanho A5 de 48 folhas, das quais 18 ainda estão em branco. Das usadas, 8 folhas estão todas escritas com matéria das aulas. Ufa... que canseira!

Ah, e o mesmo caderno também deu para o curso de italiano, que aliás, ocupou mais de metade das folhas utilizadas! Tirei 18 a italiano...

domingo, 6 de dezembro de 2009

"Era uma casa muito engraçada..."

Agora que nos começamos a despedir de tudo, é altura de falar um pouco sobre certas características da nossa casa (ou kitinet, como por aqui se diz) a que aos poucos nos fomos afeiçoado. Não é defeito, é feitio...

... o nosso duche é eléctrico, com a tomada pouco acima da base, o que dá uma total adrenalina a cada banho. Mas o que chateia é que, enquanto os outros duches todos do condomínio são reguláveis para qualquer temperatura, o nosso apenas tem três: a ferver, frio e muito frio. O truque é estar sempre de braço estendido para ir variando entre o "a ferver" e o "frio", e ir fazendo uma dança enquanto se toma banho para nos irmos molhando quando a água está morna.


... os nossos colchões são de espuma, e deve ser da má, porque desde a primeira noite que debaixo do nosso corpo se vai formando uma cova cada vez mais funda, de onde já não se consegue fugir!


... o nosso fogão é ao pé da porta, o que com o constante corropio em que esta casa anda, não são raros os casos de algumas traulitadas no pobre cozinheiro.


... o quarto do André dá directamente para a luz do dia, pelo que mal o sol desponta, o rapaz já tem no quarto uma luz intensa que nem os cortinados bloqueadores que o Sr. Mário nos arranjou evitam.

... em contrapartida, o meu quarto e do Valter dá para uma selva de canas a menos de um metro da janela, pelo que a luz nunca entrou naquele quarto. Estamos a equacionar alugar o quarto ao governo brasileiro para servir de solitária.

... o tecto da nossa casa é o terraço comum, pelo que todo o sol e calor acumulado durante o dia nos tornam a casa insuportavelmente quente durante a noite.

... os bancos da mesa são de madeira, tanto o assento como o encosto, e formam um ângulo completamente desconfortável, pelo que aguentar sentado mais de meia hora é um acto heróico digno de condecoração pelo Presidente da República quando chegarmos a Portugal.

... a bancada da casa de banho (que nem meio metro deve ter) está feita num ângulo em que a água que se acumula lá não escorre para lado nenhum, pelo que está sempre inundada. O mesmo se passa com a zona em que era suposto pormos o escorredor da loiça.

... a construção da casa deve ser de uma qualidade tal que, nos tempos mais húmidos, temos quantidades de bolor em todo o lado nos quartos, que ataca tudo, desde a roupa até às fotografias, dos sapatos aos pacotes de farinha.


... para a história do bolor se calhar ajuda o facto de quando chove entrar água para o meu quarto e do Valter, formando um rio que atravessa meio quarto.


... da ponta mais longínqua da porta até esta são quinze passos a andar normalmente. Tanto que chamamos carinhosamente "corredor" a um espaço que tem um metro quadrado!

... a nossa dispensa é um bonito armário que devia ter livros, copos de cristal da Atlantis e loiça Vista Alegre, mas como nós nos remetemos a um voto de pobreza absoluta, estes foram susbtituidos por cebolas, alhos e tudo o mais que tem um odor agradável.

... o nosso autoclismo raramente volta a encher depois de despejado. É preciso dar-lhe uma mãozinha, levantando a tampa e empurrando para baixo o flutuador que devia ir para baixo e para cima conforme está vazio ou cheio de água. Como ele normalmente encrava é preciso fazê-lo descer manualmente, o que é muito confortável, principalmente quando se está sentado e por alguma razão se tem que descarregar o autoclismo mais do que uma vez!

De repente não me lembro de mais nada a apontar à nossa casinha. Coitadinha, já suportou tanto...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Os novos vizinhos


Um lagarto enorme e nervozinho...
.

... um louva-Deus muito crente...
.

... e uma osga ocupa no quarto do André!

Já diz a canção, "Moro, num país tropicau!"...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Brasileirices III: Os Sete Anões... outra vez!


Lembram-se desta imagem?

Sim, é a casinha dos patos no lago dos jacarés ocupada por dois dos sete anões. Ora bem, não valeria a pena regressar a este tema não fosse um pormenor muito curioso, ocorrido nos últimos dias.
Olhemos mais de perto...


Pois é, a casinha dos patos é agora habitada por seis do Sete Anões! De costas e isolado dos outros distingue-se perfeitamente o Zangão, a quem calhou provavelmente o turno de sentinela e está de olho naquelas duas tartarugas que nada podem trazer de bom.
Os outros não sei bem, mas parece-me que quem falta é o Dunga, provavelmente numa consulta de Terapia da Fala no Hospital Universitário, bem ali ao lado, a ver se resolve aquele seu pequeno problema comunicacional.
A Branca de Neve, nem vê-la, mas suspeito que se deve ter cansado de esperar o príncipe e de fazer uma dieta de maçãs e está a tirar Odontologia (que é a nossa Medicina Dentária) na Faculdade de Medicina e hoje é feliz a empaturrar-se de arroz com feijão todos os dias no Restaurante Universitário!

P.S. - OK, concordo, estou perfeitamente a ver isto a acontecer em Portugal, mas o que me intriga é o que é que irá na cabeça desta criatura, que se deu ao trabalho de, no meio dos jacarés, ter pegado num barquinho e ido até à casinha dos patos para pôr mais quatro anões! Ao menos tinha tirado os anões da porta para deixar os patos entrar quando dá a fome aos jacarés! Ou terá sido uma reinvidicação do sindicato dos anões mineiros ou um maquiavélico plano engendrado por um poderoso lobby de Hollywood? Que risada...

A favela chique


A favela chique

Hoje de manhã vieram cá a casa bater duas senhoras e um rapaz com uma fita métrica:

-Oi, desculpa incomodar, mas nós estamos a tirar as medidas das casa aqui do condomínio, se não se importassem que entrássemos...

Lá entraram. Pergunta o Valter:

- Desculpem lá, mas o que é que estão mesmo a fazer?
- Ah, estamos a tirar as medidas das casas todas para fazermos as plantas do condomínio.
- Mas quando construiram isto não havia já plantas? - pergunto eu.
- Não, não havia plantas nenhumas, agora é que as vamos fazer.
- Ah, pensava que normalçmante se faziam primeiro as plntas e depois é que construím as casas.
- Pois, aqui nem sempre é assim!
- Estou a ver...

P.S. - Ai a minha vida que isto ainda nos cai em cima da cabeça!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Especialidades gastronómicas

Algumas das maravilhas que se andam a comer por cá...
.

Sopinha de cenoura com agrião
.

Ostras com queijo gratinado




Francesinhas

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Uma anedota

O menino Joãozinho foi fazer Erasmus para o Brasil, onde tinha uma disciplina chamada Análise de Sistemas de Produção.
O Joãozinho nunca percebeu o porquê desse nome, visto que nunca ter ouvido falar em produção nessa disciplina, mas sim em técnicas de pegar búfalos pelos cornos. Porém, isso parecia normal pois noutra disciplina, chamada Planeamento Industrial, também nunca ouviu falar em indústria.
Enfim, nessa disciplina de ASP o Joãozinho teve um primeiro trabalho, tão simples que apenas demorou uma hora a fazer, por isso ele nunca mais pensou ouvir falar disso na vida. Nessa disciplina teve também um teste, para o qual estudou uma hora e ainda não sabe o resultado, mas pensou que se safou bem pois eram dez perguntas de cruzinha.
Há uma semana, o Joãozinho teve uma tarefa de aula que demorou cinco minutos a fazer, embora a aula tenha sido reservada toda para isso.
Hoje foi a última aula, e qual não foi a surpresa quando a professora propôs que o segundo teste fosse susbtituído pela média desses dois trabalhos dificílimos!
Melhor, os seus colegas, não contentes com isso, propuseram à professora que a nota final fosse a média da prova e dos dois trabalhos, o que a professora achou razoável.
Resumo: o teste vai pesar para a nota tanto como o trabalhinho de cinco minutos que o Joãozinho não fazia nada tão fácil desde os picotados da primária!

Ah ah ah, que engraçada esta anedota!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Rebaptimo

Aqui no Brasil chama-se lavadora àquilo que em Portugal chamamos máquina de lavar roupa.
Ora bem, nós mudámos-lhe o nome. Para ser fiel à sua verdadeira função, deixou de se chamar lavadora para se passar a chamar molhadora, pois é aquilo que realmente faz.
Chegámos à conclusão que chamar-lhe lavadora era utilizar um termo inexacto, sobreavaliador das suas capacidades.
Por isso, embora até ponhamos detergente, há dois meses e meio que não lavamos a nossa roupa, apenas a molhamos!
Venham-me cá dizer que não vivem sem usar amaciador com cheirinho a "flores acabadas de colher" ou "maresia num dia cinzeto em Novembro ali para os lados do Guincho" que eu conto-vos uma história!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cálculo IV

No outro dia fui ao Sacolão comprar umas frutinhas cá para casa. A rapariga da caixa pediu-me 1,25 reais. Eu, que não tinha certo, dei-lhe 2,25 reais para faciltar o troco.
Ela pegou na máquina calculadora e fez a seguinte operação: 2,25 - 1,25. Resultado: 1 real. Deu-me um real e fui-me embora.

Fiquei a pensar: se a calculadora não funcionasse como é que ela resolvia o problema?

Este país ainda tem um grande caminho a percorrer para ser realmente grande. Mas ao menos está a percorrê-lo...

P.S.- Alguém que está à frente de uma caixa registadora não devia já ter a experiência para perceber que, se alguém que podia pagar uma quantia apenas com uma nota, para além dessa ainda lhe dá uma moeda no valor das casas centesimais, era porque se calhar não está apenas a querer livrar-se de trocos?
Na terça, estava eu sentado no autocarro à espera que ele arrancasse para ir para a faculdade, quando o condutor se vira para os passageiros e diz o seguinte:

"Pessoal, muito obrigado por terem vindo, é por causa de vocês que eu ainda tenho emprego. Muito obrigado mesmo!"

De seguida o cobrador de bilhetes faz mais ao menos o mesmo agradecimento.

Quando saí, o cobrador desejou-me um resto de bom dia e agradeceu-me uma vez mais.

Fiquei a pensar naquilo o resto do dia...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Buenos Aires tem buenos aires

(Bem, na verdade não tem, mas ficava um título giro!)
.

Nós à porta de Colónia do Sacramento
.

Como a maior parte dos nossos leitores sabem (nem que seja porque alguns são os nossos credores!), aqui os piquenos estiveram uma semana e meia a passear entre Buenos Aires e Montevideo, fazendo um desviozito por Colónia do Sacramento.
.

A Rua de Portugal
.
Chegámos pela manhãzinha a Colónia do Sacramento de Buquebus, onde aproveitámos os únicos raios do sol com a direito a esse nome que apanhámos durante semana e meia. Colónia é uma cidade uruguaia classificada património da humanidade pela UNESCO. É uma cidadezinha muito catita, estilo Óbidos, mas com mais anúncioa à Coca-Cola. Ruas pequenas com casas tipicamente portuguesas, um farol do tempo da Maria Cachucha, e muitos cantos e recantos com árvores, flores e melgas. Obviamente que esta beleza toda só se deve porque, em tempos, Colónia foi portuguesa, na altura em que andávamos por aqui a meter-nos com as índias. À noite, e depois de comermos uma bela parrilhada, fomos para Montevideo.
.

A Plaza da Independência
.
Em Montevideo dormimos duas noites de graça: o episódio das carraças no Rio de Janeiro foi a melhor coisa que nos aconteceu, já que basicamente nos rendeu quatro noites à borla, duas no Rio e duas em Montevideo, oferecidas pelos hostel do Rio para que melhorássemos a nossa imagens dos hosteis deles. Por isso, aqui fica um conselho: andem sempre com dois ou três casais de carraças convosco e quando chegarem ao vosso hotel (quão mais fino melhor!) larguem-nos para se passearem nas vossas camas. Depois basta protestarem um bocado e logo terão os frutos de tamanha horrenda estratégia. A nós aconteceu-nos sem queremos, mas agora já sabemos como percorrer toda a América do Sul sem pagar uma única noite!
.

.
Bem, quanto a Montevideo, a cidade é deveras desinteressante, sem grandes atracções turísticas, embora o guia que nos deram no turismo insistisse que contemplássemos extasiados certos prédios que poderíamos perfeitamente encontrar em Chelas. Mas pronto, ficou conhecida e ficámos a saber que Montevideo foi construída pelos espanhóis porque basicamente estavam com cagufa dos portugueses. A última noite foi passada num barzito simpático de seu nome Fun Fun, onde já esteve Carlos Gardel e onde ouvimos tango cantado e fomos assediados pela cantora uruguaia e por turistas brasileiras. Estes nossos lindos olhos não partem corações só em Portugal...

.


No bar Fun Fun com a cantora que nos teria feito os seus Carlos Gardéis se nós tivessemos deixado
..
Buenos Aires é a cidade do tango, da Mafalda, do Maradona, da Evita, do Carlos Gardel, do doce de leite e do Che Guevara. Infelizmente qualquer um destes ícones explorado comercialmente até à exaustão, o que funciona bem com os americanos pacóvios mas não com estes ilustres exploradores do mundo. Mas OK, os coitados têm que ganhar a vida, seja a dançar tango seja a impingir imans com todas as tiradas cómicas da Mafalda ou com a Evita a acenar em todas as perspectivas possíveis.

O mai lindo tango em San Telmo
.

De Buenos Aires esperava mais tango no ar, mais nostalgia de tempos dourados que já não voltam. Pelo contrário, encontrámos uma cidade enorme, barulhenta, mas com prédios de outras épocas conservados de maneira a fazer inveja a muitos prédios em Lisboa. Buenos Aires está cheia de vida, seja pelos portenhos em sí, seja pelas manifestações, pelos protestos, pelas pessoas a gozarem os fins de tarde na rua, pelas ruas de comércio cheias de gente. Começámos por comemorar a ida a Buenos Aires com uma ida ao Pacha, uma discoteca da moda igual a tantas outros Pacha's pelo mundo fora, onde constatámos que estávamos rodeaods por índios. os argentinbos, ao contrário do que se diz, não é gente nada bonita!
.

O obelisco da Avenida 9 de Julho, a mais larga do mundo
.
Vimos tango (um bocado comercial) mas faltou-nos uma boa noite de tango. Para compensar tivemos o privilégio de poder ver o concerto da banda Fernandez Fierro, que com o seu tango electrónico alternativo nos deu uma noite bem diferente da que se espera em Buenos Aires.
.

À porta do Fernadez Fierro
.

Fomos ver o jazigo da Evita, fomos ao museu da Evita, fomos ao palácio presidencial (onde viveu a Evita!) onde fomos despachados tipo chouriços. Fomos ver o estádio onde o Maradona fez das suas (La Boca Junior, ou la Bombonera), fomos ao museu do clube do Maradona, fomos ver o camarote do Maradona, fomos ver o balneário do Maradona. Fomos ao congresso, onde tivemos a visita guiada mais chata do mundo (embora o guia garantisse que ia ser breve!). Fomos a Puerto Madero, onde eles fizeram nalgo parecido às nossas Docas, mas em bom. Tentámos ir aos dois teatros, mas estavam em obras. Fomos a Caminito, onde o turismo impera e estraga um sítio que, embora agradável, podia não parecer tao para inglês ver. Fomos beber um copo a San Telmo, que o nosso Bairro Alto bate aos pontos.

Ai que poses tão naturais...

Fomos a todo o lado, e no final de contas, Buenos Aires até tem buenos aires!
.

Parrilhada argentina
.

Diga lá Sr. Presidente
.

Eles, a sala do Senado, depois de 759 horas de uma breve visita ao Palácio do Congreso

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cidádji Márávilhósa...


O centro do Rio de Janeiro

Este post já vai com um atraso de uma semanita, mas sem net em casa vai sendo complicado manter os nossos amigos e familiares em dia.


Pois é, faz hoje uma semana (a propósito, hoje é feriado e já é o quarto que apanhamos à segunda feira, este da função pública, e ainda falta pelo menos um, que não nos vai afectar muito por estarmos em Buenos Aires!) que chegámos do Rio de Janeiro. E a cidade é mesmo como a canção diz, MARAVILHOSA!

Não sei se existe outra cidade no mundo com areais sem fim, verde por toda a parte (ao contrário de São Paulo, que era cimento por toda a parte!), o azul do mar de um lado, o azul de um lago de outro, e montanhas estrategicamente espalhadas que permitem a quem lhes chega ao topo, das melhores vistas que é possivel ter. Isto tudo com a protecção do Cristo Redentor, a mandar abraços ao pessoal lá de cima do seu morro!

Mas se a beleza é um dos lados da moeda, existe a outra, o da pobreza das favelas, mesmo ao pé da parte “normal” da cidade. Muitas vezes comentámos que se pode viver muito bem no Rio, mas o outro lado, o da miséria sem pudor, das crianças a dormirem por baixo de viadutos, dos catadores de lixo que pediam aos clientes das esplanadas do calçadão as latas das bebidas que estavam a acabar, da insegurança, da prostituição ao cair da noite, esse lado está sempre presente. De qualquer lado se podem ver várias favelas, basta não fechar os olhos.

Nunca nos sentimos directamente ameaçados, mas houve uma ou duas vezes em que nos sentimos mais “apertadinhos”, em que tentávamos dar o mínimo das vistas, embora qualquer turista, mesmo sem o espalhafato dos americanos ou dos japoneses, tenha escrito na testa “não sou daqui”. Mas acabámos por nos safar bem, e até fizémos mais do que estariamos à espera, inclusivé ir dar um pézinho de samba no sábado à noite!

Mas a primeira aventura no Rio foi mesmo logo na primeira noite no Che Lagarto Copacabana Hostel, em que travámos uma luta inglória... contra carraças! Um exército delas, muito bem posicionado no campo de batalha (leia-se “nossas camas”), atacou-nos pela calada da noite. Obviamente que foi aqui o je a dar pelos bichinhos, pois, ao mudar para uma segunda cama e perceber que as carraças já tinham colocado uma batalhão nessa frente de batalha, foi acordar os dois lordes que dormiam descansadamente e só aí se aperceberam que eram o prato principal das tropas! Solução: mudaram-nos de quarto. Funcionou? Não, este também tinha carraças! Na manhã seguinte ainda tentaram convencer-nos que tudo iria ser feito para eliminar o problema e convidaram-nos a ficar outra noite para comprovarmos isso. Claro que lhes dissemos que íamos dar sangue para outro lado! O mais tranquilizador foi ter falado nessa noite com a empregada da limpeza a quem, depois de lhe contarmos a nossa epopeia com pormenores em como comíamos as carraças que nos atacavam e que estávamos a passear no Rio com um filho nosso de 5 anos que calçava meias do Mickey tamanho 41 (tão burrinha coitada...), nos disse que ninguém lhe tinha dito nada e que sabia das carraças há eras!(entretanto o Che Lagarto já nos enviou um pedido de desculpas e uma oferta de três noites noutro hostel!)

Mudámos de hostel, e ficámos num quarto com o tamanho da nossa kitinet (como imaginam, era enorme!) e quatro beliches triplos dentro! Aí conhecemos a fantástica Vanessa e o gay frenético Thiago, que obviamente deliraram com a nossa companhia, cada um pelas suas razões! Fomos sair todos para a Lapa, mais um coreano de seu nome Pato à Pequim que não percebia nada de inglês, e por isso passámos a comunicar em português: ele continuou sem perceber nada, mas ao menos nós não nos tínhamos que esforçar muito! Lá na Lapa fomos ao Democráticos, que mais parecia uma associação recreativa, daquelas com colunas de ferro e chão em madeira já a revelar o pesar dos sambas em cima, onde descobrimos a maravilha que é mudar de hora enquanto se dança um belo samba filmado por um coreano com tendências voyeristas. Grande noite!


Chato, chato foi o tempo ter-nos pregado uma data de partidas, desde uma nuvem no topo do Pão de Açúcar que não permitiu que víssemos a vista, a uma chuvada terrível no dia em que fomos visitar a Barra da Tijuca, pelo que ficámos no autocarro a curtir o ar condicionado que tentava contrariar o aquecimento global ao manter o interior do veículo com uma agradável temperatura de 30 graus negativos. Até tivemos direito a ter o aeroporto fechado por causa do mau tempo!

Com mais algumas peripécias pelo meio (como a dos dois velhos no metro a chamarem velho um ao outro, tudo por nossa causa!), que depois contaremos quando voltarmos à vossa companhia, a conclusão só podia ser uma: adorámos o Rio de Janeiro!




O Pão de Açúcar encoberto por uma núvem que nos estragou a vida!



Em Copacabana


No Maracanã

O Real Gabinete Português de Leitura


O Teatro Municipal

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The brazilian way of life

Viver no Brasil é aceitar sem grandes reclamações que tudo o que nos prometem para amanhã, mesmo que marquem horas e tudo, de facto o mais provavel é nunca acontecer.
Viver no Brasil é perceber que, mesmo que não saibam sequer o que estamos a perguntar, os brasileiros vão responder que sim.
Viver no Brasil é saber que é normal combinar-se tudo e ninguém ficar muito chateado por nada acontecer como previsto.
Viver no Brasil é levar na boa o facto de se gastar horas da nossa vida durante quase todos os dias de um mês inteiro para abrir uma mísera conta bancária e no fim não conseguir (falta sempre qualquer mais qualquer coisa...).
Viver no Brasil é não dar muita importância ao facto de se obterem respostas diferentes para a mesma pergunta, mesmo que essas pessoas trabalhem lado a lado para a mesma instituição.
Viver no Brasil é ver professores e alunos atenderem o telemóvel nas aulas como se estivessem no café.
Viver no Brasil é perder quase uma hora de aula porque ninguém sabe para onde é que a professora mudou a aula (e o problema só se resolveu pelo facto de eu ter perguntado à senhora que me jurava a pés juntos que a professora não estava naquele bloco, se aquela senhora na sala ao lado de nós não seria a dita professora... e não é que era?!)
Viver no Brasil é termos as próprias pessoas que são pagas para nos resolverem os problemas a constastar que é mesmo chato quando não se encontra ninguém para nos ajudar (isto dito com a maior das calmas...).
Viver no Brasil é relativizar o facto de as mensagens de telemóvel demorarem duas horas a chegar ao destino.
Viver no Brasil é a net cair 156 vezes ao dia e isso não ser razão para ir incomodar o senhorio.
Viver no Brasil é ter testes perguntas com resposta de escolha múltipla, cuja primeira alternativa é "a) nenhuma das anteriores".
Viver no Brasil é ver ser tudo feito tão lentamente que até dá para adormecer nos entretantos.
Viver no Brasil é perceber que a exigência é tão pouca que não há teste que não possa ser feito noutro dia nem trabalho que não dê para entregar uma semana depois.
Viver no Brasil é saber que tudo o que não há, não dá, não pode ou não existe, afinal há, afinal dá, afinal pode e afinal existe, muitas vezes bastando fazer um pouco de conversa, chamando gatinha à empregada ou dizendo bem do clube de futebol do empregado.
Viver no Brasil é partir do princípio que ninguém vai cumprir as suas obrigações, e por isso ninguém nos vai cobrar se não cumprirmos a nossas.
Viver no Brasil é ter de gramar com uma lei que proíbe o uso de palavras estrangeiras, e depois ter os ouvido e olhos feridos de morte com relíquias literárias como closete, filé, deletar...
Viver no Brasil é aprender a ficar extremamente calmo se o autocarro pelo qual esperavamos há meia hora passou com uma velocidade tal que mesmo que travasse já só o apanhávamos cem metros depois.
Viver no Brasil é as telefonistas ficarem extremamente chateadas com o cliente se este se atreve a protestar por ter ficado 28 minutos à espera quando foi o próprio serviço que lhe ligou.
Viver no Brasil é não ficar admirado com o facto dos professores desconhecerem o porquê que lhes estamos a dar um papel com a nossa inscrição na disciplina quando na secretaria nos disseram que era importantíssimo entrega-la ao professor.
Viver no Brasil é ninguém levar nada muito a sério, tudo se há de resolver... para alguma coisa é que serve Deus ser brasileiro!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O idoso de 78 anos que vive dentro de nós!


Eles têm colestrol alto, dor de garganta, artrose, ciática, bicos de papagaio, tremuras, meias por cima das calças, pijamas lindíssimos, pantufas... e sorvem a sopa!

Internet: a saga continua...



Ah, está bem, já me tinham dito...

A República


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sampa

Há duas semanas visitámos São Paulo. Fomos de camioneta (o André adorou!) durante a noite e chegámos lá bem cedinho... cedinho o suficiente para assistirmos a uma interrupção do serviço do metro devido ao incêndio de uma carruagem na estação a seguir à nossa (nada de grave, nem sequer houve feridos, só o caos no sistema de transportes da cidade!) e a um autocarro eléctrico a estoirar mesmo à nossa frente (ao que parece é habitual, o motorista saíu, pôs as catenárias no sítio e continuou a viagem!) o que com os gritos dos (das!) passageiros deu sempre uma corzinha a um dia muito cinzento!

São Paulo é uma cidade cinzenta, uma Nova Iorque inventada pelos brasileiros, mas que suponho não ter  nem um décimo do interesse da sua musa inspiradora.

Tudo em São Paulo é imenso: desde os arranha-céus ao lixo nas ruas, desde as ruas quilométricas à quantidade de pessoas nas ruas, desde a variedade de oferta (cultural , gastronómica, arquitectónica...) à falta de oportunidades para quem lá vive.

São Paulo pareceu-me uma cidade de extremos: arranha-céus impecáveis ao lado de outros completamente abandonados e repletos de grafittis, o esplendor das lojas de luxo ao lado da maior das misérias humanas, parques urbanos repletos daqueles que se podem dar ao luxo de fazer desporto, um trânsito imenso de helicópetros sobrevoando aqueles que nem sempre têm para pagar o bilhete de metro.
Segundo os guias tudo em São Paulo é o melhor da América do Sul: os prédios são os mais altos, a cidade é a terceira do mundo em gente a viver nos seus limites. Mas para o que realmente interessa percebemos rapidamente que é apenas um problema de comparação: o Museu de Arte de São Paulo (outro que é considerado o melhor da América do Sul!) tem um corredor com alguns quadros engraçados, um Picasso, um Rembrant, um Van Gogh e pouco mais. Realmente, quando nos comparamos com os piores não é difícil parecermos os melhores.
O bairro japonês é uma fraude a tentar imitar a Chinatowns anglo-saxónicas. O que acabei por gostar mais, e eles nem dão muita relevância, foi ao Monumento da Independência, uma estátua imponente com o respectivo museu, construídos à beira do rio Ipiranga, e dentro do qual se encontra o túmulo do rei D.Pedro I, que deu a indepêndência ao Brasil.
Mas o que vou levar na cabeça de São Paulo é a pobreza. Aliás, pobreza é bom demais, aquilo é miséria mesmo. Em São Paulo os pedintes não insistem: aceitam um não com educação, retiram-se para não incomodar, já tão acostumados que devem estar da mesma resposta. O que não falta em São Paulo é gente a remexer o lixo para apanhar alguma coisa para comer, ou uma lata que depois possam vender e ganhar algum dinheiro (60 latas valem 4 reais, ou 1,30 euro), gente a dormir no meio da rua (literalmente no meio!) só com um cobertor entre o corpo e o chão, crianças a vender pacotinhos de gomas, jovens nos sinais de trânsito a tentar que alguém lhes pague por lavarem o vidro do carro.
Mas por incrível que pareça, não é nem de perto nem de longe a cidade perigosa que se ouve dizer em qualquer lado: quem tem mau aspecto não chateia ninguém, nunca nos sentimos observados, muito menos em perigo. À noite o melhor é estar em casa, mas isso é algo que se aceita com relativa tranquilidade.
Em São Paulo também o que nos valeu foi o Vinicius, amigo do Fábio quando ele esteve a fazer Erasmus em Lisboa. Andou sempre connosco, e no domingo ainda pudemos provar a melhor feijoada que já pudémos provar quando os pais dele nos convidaram a ir lá almoçar.
Apesar de tudo, foi bom ir a São Paulo.
.



Na rua de São João com o Banespa, o Empire State Building cá do sítio
.


Um barbeiro improvisado à fremte da catedral...
.

... e uma macumba em plena rua!
.


Um prédio coberto com grafitis (ou um grafiti com um pouco de prédio?)
.

Assaltámos o Banco do Brasil e ficámos muita ricos!
.
.
No Bairro da Liberdade, a maior concentração de japoses fora do Japão (claro, tinha que ser  maior!)
.

Conseguem ver a mão que está a sair daquele saco de papel? Isto foi na tasca mais nojenta de São Paulo!


O MASP
.

Um quarto de três passou a ser para cinco pelo mesmo preço!
.

.

O edifício Copan, de Oscar Niemeyer (uma grande desilusão!)
.

Sampa by night
.

O Monumento à Liberdade, à beira do rio Ipiranga, jazigo do Rei D.PedroI, primeiro imperador do Brasil
.

Valha-nos o nosso Palmeiras, que lá ganhou contra o Acadêmico!