segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Cidádji Márávilhósa...


O centro do Rio de Janeiro

Este post já vai com um atraso de uma semanita, mas sem net em casa vai sendo complicado manter os nossos amigos e familiares em dia.


Pois é, faz hoje uma semana (a propósito, hoje é feriado e já é o quarto que apanhamos à segunda feira, este da função pública, e ainda falta pelo menos um, que não nos vai afectar muito por estarmos em Buenos Aires!) que chegámos do Rio de Janeiro. E a cidade é mesmo como a canção diz, MARAVILHOSA!

Não sei se existe outra cidade no mundo com areais sem fim, verde por toda a parte (ao contrário de São Paulo, que era cimento por toda a parte!), o azul do mar de um lado, o azul de um lago de outro, e montanhas estrategicamente espalhadas que permitem a quem lhes chega ao topo, das melhores vistas que é possivel ter. Isto tudo com a protecção do Cristo Redentor, a mandar abraços ao pessoal lá de cima do seu morro!

Mas se a beleza é um dos lados da moeda, existe a outra, o da pobreza das favelas, mesmo ao pé da parte “normal” da cidade. Muitas vezes comentámos que se pode viver muito bem no Rio, mas o outro lado, o da miséria sem pudor, das crianças a dormirem por baixo de viadutos, dos catadores de lixo que pediam aos clientes das esplanadas do calçadão as latas das bebidas que estavam a acabar, da insegurança, da prostituição ao cair da noite, esse lado está sempre presente. De qualquer lado se podem ver várias favelas, basta não fechar os olhos.

Nunca nos sentimos directamente ameaçados, mas houve uma ou duas vezes em que nos sentimos mais “apertadinhos”, em que tentávamos dar o mínimo das vistas, embora qualquer turista, mesmo sem o espalhafato dos americanos ou dos japoneses, tenha escrito na testa “não sou daqui”. Mas acabámos por nos safar bem, e até fizémos mais do que estariamos à espera, inclusivé ir dar um pézinho de samba no sábado à noite!

Mas a primeira aventura no Rio foi mesmo logo na primeira noite no Che Lagarto Copacabana Hostel, em que travámos uma luta inglória... contra carraças! Um exército delas, muito bem posicionado no campo de batalha (leia-se “nossas camas”), atacou-nos pela calada da noite. Obviamente que foi aqui o je a dar pelos bichinhos, pois, ao mudar para uma segunda cama e perceber que as carraças já tinham colocado uma batalhão nessa frente de batalha, foi acordar os dois lordes que dormiam descansadamente e só aí se aperceberam que eram o prato principal das tropas! Solução: mudaram-nos de quarto. Funcionou? Não, este também tinha carraças! Na manhã seguinte ainda tentaram convencer-nos que tudo iria ser feito para eliminar o problema e convidaram-nos a ficar outra noite para comprovarmos isso. Claro que lhes dissemos que íamos dar sangue para outro lado! O mais tranquilizador foi ter falado nessa noite com a empregada da limpeza a quem, depois de lhe contarmos a nossa epopeia com pormenores em como comíamos as carraças que nos atacavam e que estávamos a passear no Rio com um filho nosso de 5 anos que calçava meias do Mickey tamanho 41 (tão burrinha coitada...), nos disse que ninguém lhe tinha dito nada e que sabia das carraças há eras!(entretanto o Che Lagarto já nos enviou um pedido de desculpas e uma oferta de três noites noutro hostel!)

Mudámos de hostel, e ficámos num quarto com o tamanho da nossa kitinet (como imaginam, era enorme!) e quatro beliches triplos dentro! Aí conhecemos a fantástica Vanessa e o gay frenético Thiago, que obviamente deliraram com a nossa companhia, cada um pelas suas razões! Fomos sair todos para a Lapa, mais um coreano de seu nome Pato à Pequim que não percebia nada de inglês, e por isso passámos a comunicar em português: ele continuou sem perceber nada, mas ao menos nós não nos tínhamos que esforçar muito! Lá na Lapa fomos ao Democráticos, que mais parecia uma associação recreativa, daquelas com colunas de ferro e chão em madeira já a revelar o pesar dos sambas em cima, onde descobrimos a maravilha que é mudar de hora enquanto se dança um belo samba filmado por um coreano com tendências voyeristas. Grande noite!


Chato, chato foi o tempo ter-nos pregado uma data de partidas, desde uma nuvem no topo do Pão de Açúcar que não permitiu que víssemos a vista, a uma chuvada terrível no dia em que fomos visitar a Barra da Tijuca, pelo que ficámos no autocarro a curtir o ar condicionado que tentava contrariar o aquecimento global ao manter o interior do veículo com uma agradável temperatura de 30 graus negativos. Até tivemos direito a ter o aeroporto fechado por causa do mau tempo!

Com mais algumas peripécias pelo meio (como a dos dois velhos no metro a chamarem velho um ao outro, tudo por nossa causa!), que depois contaremos quando voltarmos à vossa companhia, a conclusão só podia ser uma: adorámos o Rio de Janeiro!




O Pão de Açúcar encoberto por uma núvem que nos estragou a vida!



Em Copacabana


No Maracanã

O Real Gabinete Português de Leitura


O Teatro Municipal

terça-feira, 13 de outubro de 2009

The brazilian way of life

Viver no Brasil é aceitar sem grandes reclamações que tudo o que nos prometem para amanhã, mesmo que marquem horas e tudo, de facto o mais provavel é nunca acontecer.
Viver no Brasil é perceber que, mesmo que não saibam sequer o que estamos a perguntar, os brasileiros vão responder que sim.
Viver no Brasil é saber que é normal combinar-se tudo e ninguém ficar muito chateado por nada acontecer como previsto.
Viver no Brasil é levar na boa o facto de se gastar horas da nossa vida durante quase todos os dias de um mês inteiro para abrir uma mísera conta bancária e no fim não conseguir (falta sempre qualquer mais qualquer coisa...).
Viver no Brasil é não dar muita importância ao facto de se obterem respostas diferentes para a mesma pergunta, mesmo que essas pessoas trabalhem lado a lado para a mesma instituição.
Viver no Brasil é ver professores e alunos atenderem o telemóvel nas aulas como se estivessem no café.
Viver no Brasil é perder quase uma hora de aula porque ninguém sabe para onde é que a professora mudou a aula (e o problema só se resolveu pelo facto de eu ter perguntado à senhora que me jurava a pés juntos que a professora não estava naquele bloco, se aquela senhora na sala ao lado de nós não seria a dita professora... e não é que era?!)
Viver no Brasil é termos as próprias pessoas que são pagas para nos resolverem os problemas a constastar que é mesmo chato quando não se encontra ninguém para nos ajudar (isto dito com a maior das calmas...).
Viver no Brasil é relativizar o facto de as mensagens de telemóvel demorarem duas horas a chegar ao destino.
Viver no Brasil é a net cair 156 vezes ao dia e isso não ser razão para ir incomodar o senhorio.
Viver no Brasil é ter testes perguntas com resposta de escolha múltipla, cuja primeira alternativa é "a) nenhuma das anteriores".
Viver no Brasil é ver ser tudo feito tão lentamente que até dá para adormecer nos entretantos.
Viver no Brasil é perceber que a exigência é tão pouca que não há teste que não possa ser feito noutro dia nem trabalho que não dê para entregar uma semana depois.
Viver no Brasil é saber que tudo o que não há, não dá, não pode ou não existe, afinal há, afinal dá, afinal pode e afinal existe, muitas vezes bastando fazer um pouco de conversa, chamando gatinha à empregada ou dizendo bem do clube de futebol do empregado.
Viver no Brasil é partir do princípio que ninguém vai cumprir as suas obrigações, e por isso ninguém nos vai cobrar se não cumprirmos a nossas.
Viver no Brasil é ter de gramar com uma lei que proíbe o uso de palavras estrangeiras, e depois ter os ouvido e olhos feridos de morte com relíquias literárias como closete, filé, deletar...
Viver no Brasil é aprender a ficar extremamente calmo se o autocarro pelo qual esperavamos há meia hora passou com uma velocidade tal que mesmo que travasse já só o apanhávamos cem metros depois.
Viver no Brasil é as telefonistas ficarem extremamente chateadas com o cliente se este se atreve a protestar por ter ficado 28 minutos à espera quando foi o próprio serviço que lhe ligou.
Viver no Brasil é não ficar admirado com o facto dos professores desconhecerem o porquê que lhes estamos a dar um papel com a nossa inscrição na disciplina quando na secretaria nos disseram que era importantíssimo entrega-la ao professor.
Viver no Brasil é ninguém levar nada muito a sério, tudo se há de resolver... para alguma coisa é que serve Deus ser brasileiro!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O idoso de 78 anos que vive dentro de nós!


Eles têm colestrol alto, dor de garganta, artrose, ciática, bicos de papagaio, tremuras, meias por cima das calças, pijamas lindíssimos, pantufas... e sorvem a sopa!

Internet: a saga continua...



Ah, está bem, já me tinham dito...

A República


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Sampa

Há duas semanas visitámos São Paulo. Fomos de camioneta (o André adorou!) durante a noite e chegámos lá bem cedinho... cedinho o suficiente para assistirmos a uma interrupção do serviço do metro devido ao incêndio de uma carruagem na estação a seguir à nossa (nada de grave, nem sequer houve feridos, só o caos no sistema de transportes da cidade!) e a um autocarro eléctrico a estoirar mesmo à nossa frente (ao que parece é habitual, o motorista saíu, pôs as catenárias no sítio e continuou a viagem!) o que com os gritos dos (das!) passageiros deu sempre uma corzinha a um dia muito cinzento!

São Paulo é uma cidade cinzenta, uma Nova Iorque inventada pelos brasileiros, mas que suponho não ter  nem um décimo do interesse da sua musa inspiradora.

Tudo em São Paulo é imenso: desde os arranha-céus ao lixo nas ruas, desde as ruas quilométricas à quantidade de pessoas nas ruas, desde a variedade de oferta (cultural , gastronómica, arquitectónica...) à falta de oportunidades para quem lá vive.

São Paulo pareceu-me uma cidade de extremos: arranha-céus impecáveis ao lado de outros completamente abandonados e repletos de grafittis, o esplendor das lojas de luxo ao lado da maior das misérias humanas, parques urbanos repletos daqueles que se podem dar ao luxo de fazer desporto, um trânsito imenso de helicópetros sobrevoando aqueles que nem sempre têm para pagar o bilhete de metro.
Segundo os guias tudo em São Paulo é o melhor da América do Sul: os prédios são os mais altos, a cidade é a terceira do mundo em gente a viver nos seus limites. Mas para o que realmente interessa percebemos rapidamente que é apenas um problema de comparação: o Museu de Arte de São Paulo (outro que é considerado o melhor da América do Sul!) tem um corredor com alguns quadros engraçados, um Picasso, um Rembrant, um Van Gogh e pouco mais. Realmente, quando nos comparamos com os piores não é difícil parecermos os melhores.
O bairro japonês é uma fraude a tentar imitar a Chinatowns anglo-saxónicas. O que acabei por gostar mais, e eles nem dão muita relevância, foi ao Monumento da Independência, uma estátua imponente com o respectivo museu, construídos à beira do rio Ipiranga, e dentro do qual se encontra o túmulo do rei D.Pedro I, que deu a indepêndência ao Brasil.
Mas o que vou levar na cabeça de São Paulo é a pobreza. Aliás, pobreza é bom demais, aquilo é miséria mesmo. Em São Paulo os pedintes não insistem: aceitam um não com educação, retiram-se para não incomodar, já tão acostumados que devem estar da mesma resposta. O que não falta em São Paulo é gente a remexer o lixo para apanhar alguma coisa para comer, ou uma lata que depois possam vender e ganhar algum dinheiro (60 latas valem 4 reais, ou 1,30 euro), gente a dormir no meio da rua (literalmente no meio!) só com um cobertor entre o corpo e o chão, crianças a vender pacotinhos de gomas, jovens nos sinais de trânsito a tentar que alguém lhes pague por lavarem o vidro do carro.
Mas por incrível que pareça, não é nem de perto nem de longe a cidade perigosa que se ouve dizer em qualquer lado: quem tem mau aspecto não chateia ninguém, nunca nos sentimos observados, muito menos em perigo. À noite o melhor é estar em casa, mas isso é algo que se aceita com relativa tranquilidade.
Em São Paulo também o que nos valeu foi o Vinicius, amigo do Fábio quando ele esteve a fazer Erasmus em Lisboa. Andou sempre connosco, e no domingo ainda pudemos provar a melhor feijoada que já pudémos provar quando os pais dele nos convidaram a ir lá almoçar.
Apesar de tudo, foi bom ir a São Paulo.
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Na rua de São João com o Banespa, o Empire State Building cá do sítio
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Um barbeiro improvisado à fremte da catedral...
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... e uma macumba em plena rua!
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Um prédio coberto com grafitis (ou um grafiti com um pouco de prédio?)
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Assaltámos o Banco do Brasil e ficámos muita ricos!
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No Bairro da Liberdade, a maior concentração de japoses fora do Japão (claro, tinha que ser  maior!)
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Conseguem ver a mão que está a sair daquele saco de papel? Isto foi na tasca mais nojenta de São Paulo!


O MASP
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Um quarto de três passou a ser para cinco pelo mesmo preço!
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O edifício Copan, de Oscar Niemeyer (uma grande desilusão!)
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Sampa by night
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O Monumento à Liberdade, à beira do rio Ipiranga, jazigo do Rei D.PedroI, primeiro imperador do Brasil
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Valha-nos o nosso Palmeiras, que lá ganhou contra o Acadêmico!

domingo, 4 de outubro de 2009

Brasileirices II: a Internet

Como alguns de vocês já devem ter reparado, ou porque tentaram falar connosco pela internet ou porque trocaram mails e a resposta demorou séculos a chegar, a nossa internet não é das melhores!
Na verdade, não sabemos bem porquê mas a nossa casa é mesmo a com pior net do condomínio: não dá para ver filmes do Youtube, abrir o mail da Sapo só é possível às 5h da manhã, já para não falar da quantidade de vezes que a internet nem sequer existe ou cai a meio.
Ora bem, depois de muito nos queixarmos, o capataz cá do condomínio resolveu tentar várias abordagem para nos tentar solucionar o problema:


A primeira ideia foi furar a parede num local estratégico, pois a casa dele é geminada com a nossa, e assim podia-se enfiar a antena do router delo pelo buraco, o que supostamente melhoraria a nossa cobertura de internet...
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... estranhamente, isso não funcionou! (olha ali a pontinha da antena, tão ingenuazinha...)
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A alternativa seguinte foi a de chamar um técnico que instalaria um router próprio no nosso apartamento. Lá veio o senhor com o router, uma grande conversa e tal. Quando vimos o resultado final, chegámos à conclusão que a Joana Vasconcelos teria feito a mesma obra de arte, com o pormenor de se poder condiderar arte e vender aquela "instalação" (agora as obras de arte são todas "instalações", que é o nome artístico para "tralha") por um belo balúrdio, talvez ao Berardo.
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Apresentamos ao mundo em primeira mão esta magnífica obra de arte de um artista desconhecido (mas certamente em ascenção...), intitulada "A interleite Tirol"!

P.S.- Hoje de manhã o senhor Mário (o capataz) veio tirar o router porque ao que parece tinha entrado em curto circuito. Nós sugerirmos utilizar-se para a próxima leito magro, em vez de meio-gordo. Entretanto, voltámos à internet do costume. Acho que já estamos a ganhar-lhe carinho!

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Brasileirices I: os jacarés

Com este post inauguramos uma panóplia de posts que iremos publicando conforme nos depararmos com algumas curiosidades brasileira que não têm outra classificação que não Brasileirices.

Este, que ando há algum tempo para publicar, ocorre bem dentro dos limites da nossa universidade.
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É um lago, muito engraçado, muito verde, mas... que será aquilo ali ao centro, num verde mais escuro?
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Ah, olha que engraçado, um jacaré! Podia lá ser outra coisa, num lago onde há pessoas a apanhar um pouco de ar puro à hora de almoço! (os outros quatro que já pude ver em amena cavaqueira tinham ido pescar)

Mas o mais engraçado no meio disto tudo é que este lago fica ao lado do Hospital Universitário! Quase que aposto que aqui não há casos de cirurgias que correm mal... o caso dos cegos do Santa Maria aqui em Florianópolis teria tido uma solução muito mais rápida:

"- Doutô, mi djiga, como foi a óperação do Clínio António? Tudo legau não?
- Do Clínio? Oh, máravilha, já tevi alta, não o viu?
- Não doutô!
- Xi, qui istranho, tão devi ter ido áli ao lagu dá pão aus patus..."

No mesmo espaço, mesmo ao lado, há outro lago com uma ilha onde simpaticamente criaram uma ilha para pôr uma casinha para os patos...
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... (como vêem, há mesmo pessoas a passearem-se por ali!)...


... mas se olharmos bem reparamos que os patos não têm direito a usá-a porque alguém com extremo bom gosto achou por bem pôr dois dos sete anões da Branca de Neve na porta a guardar a casa (eu suspeito que sejam o Soneca e o Dunga!).
Azaritos, agora os patinhos que fiquem cá fora que a vida é dura para todos. Eu também vim para o Brasil e ainda só apanhei chuva e mais chuva!